Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era"

Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso


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A ESPIRITUALIDADE DA NOVA ERA
VISÃO GERAL

Em muitas sociedades ocidentais, e de maneira crescente também em outras partes do mundo, os cristãos com freqüência entram em contato com diversos aspectos do fenômeno conhecido como Nova Era. Muitos deles sentem a necessidade de entender como podem aproximar-se da melhor maneira possível de algo tão sedutor e, ao mesmo tempo, complexo, esquivo e em certas ocasiões perturbador. Estas reflexões pretendem ajudar os cristãos a fazer duas coisas:
- identificar os elementos do desenvolvimento da tradição da Nova Era;
- apontar os elementos incompatíveis com a revelação cristã.
Esta é uma resposta pastoral a um desafio atual. Não pretende proporcionar uma lista exaustiva dos fenômenos da Nova Era, já que isso exigiria um volumoso tratado, além do que esta informação está disponível em outros lugares. É essencial tentar compreender a Nova Era corretamente para avaliá-la com imparcialidade e evitar criar uma caricatura da mesma. Seria insensato, além de falso, dizer que tudo o que é relacionado com este movimento é bom, ou que é mau tudo aquilo que se refere a ele. Não obstante dada a visão subjacente à religiosidade da Nova Era, em termos gerais é difícil reconciliá-la com a doutrina e a espiritualidade cristãs.

A Nova Era não é um movimento no sentido em que normalmente se emprega o termo “Novo Movimento Religioso”, nem é aquilo que normalmente se dá a entender com os termos “culto” ou “seita”. É muito mais difuso e informal, já que atravessa as diversas culturas, em fenômenos tão variados como a música, o cinema, seminários, oficinas, retiros, terapias, e em outros muitos acontecimentos e atividades, embora alguns grupos religiosos ou para-religiosos tenham incorporado conscientemente alguns elementos da Nova Era, e inclusive alguns tenham sugerido que esta corrente foi fonte de inspiração para várias seitas religiosas e para-religiosas . No entanto, a Nova Era não é um movimento individual uniforme, mas antes uma rede ampla de seguidores cuja característica consiste em pensar globalmente e atuar localmente. Aqueles que fazem parte dessa rede não se conhecem necessariamente uns aos outros e raramente se reúnem, se é que chegam a fazê-lo. Com o fim de evitar a confusão que pode surgir ao usar o termo “movimento”, alguns se referem a Nova Era como um “ambiente” (milieu) ou um “culto de audiência” (audience cult) . No entanto, também se tem destacado que “é uma corrente de pensamento muito coerente”, um desafio deliberado da cultura moderna. É uma estrutura sincretista que incorpora muitos elementos diversos e que permite compartilhar interesses ou vínculos em graus distintos e com níveis de compromissos muito variados. Muitas tendências, práticas e atitudes mais ou menos vinculadas à Nova Era, na realidade são parte de uma reação mais ampla, facilmente identificável, contra a cultura dominante, de modo que o termo “movimento” não está completamente fora de lugar. Pode aplicar-se à Nova Era no mesmo sentido em que se aplica a outros movimentos sociais de vasto alcance, tais como o movimento pelos direitos civis ou o movimento pela paz. Assim como eles, abrange um impressionante conjunto de pessoas vinculadas aos objetivos fundamentais do movimento, porém sumamente diferentes pela maneira em que se vinculam a ele e pelo modo de entender algumas questões concretas.

A expressão “religião da Nova Era” é mais controvertida, pelo que convém evitá-la, apesar de que a Nova Era é com freqüência uma resposta a perguntas e necessidades religiosas, que exerce sua atração sobre pessoas que tratam de descobrir ou redescobrir uma dimensão religiosa em sua vida. Evitar o termo “religião da Nova Era” não significa de modo algum pôr em questão o caráter genuíno da busca de significado e de sentido da vida por parte dessas pessoas. Respeita o fato de que muitos daqueles que estão dentro do movimento Nova Era distinguem cuidadosamente entre “religião” e “espiritualidade”. Muitos rejeitaram a religião organizada, porque a seu juízo não conseguia responder a suas necessidades e por isso se dirigiram a outros lugares para encontrar “espiritualidade”. Mais ainda, no coração da Nova Era está a crença de que a época das religiões particulares passou, e por isso referir-se a ele como uma religião seria contradizer sua própria autocompreensão. Não obstante, se pode situar a Nova Era no contexto mais amplo da religiosidade esotérica, cujo atrativo continua crescendo.

Existe um problema implícito no presente texto. Tratando de entender e avaliar algo que é essencialmente uma exaltação da riqueza da experiência humana, inevitavelmente se objetará que jamais poderá fazer justiça a um movimento cultural cuja essência é precisamente romper com o que se consideram os limites restritivos do discurso racional. Na realidade, tem por objetivo convidar os cristãos a levar a sério a Nova Era e, como tal, pede aqueles que o leram entrarem em um diálogo crítico com aqueles que se aproximam do mesmo mundo a partir de perspectivas muito diferentes.

A eficácia pastoral da Igreja no terceiro milênio depende em grande parte da preparação de comunicadores eficientes da mensagem evangélica. O que segue é uma resposta às dificuldades expressas por muitos que estão em contato com esse fenômeno tão complexo e escorregadiço conhecido como a Nova Era. É uma tentativa compreender o que é a Nova Era e de identificar as perguntas às quais esta pretende oferecer respostas e soluções. Já existem excelentes livros e outros materiais que analisam o fenômeno no seu conjunto ou que explicam aspectos particulares com grande detalhe. Nós nos referiremos a alguns deles no apêndice. Não obstante, nem sempre realizam o necessário discernimento à luz da fé cristã. O propósito do presente texto é ajudar aos católicos a encontrar uma chave para entender os princípios básicos que há por trás do pensamento da Nova Era, de modo que possam avaliar cristãmente os elementos da Nova Era que encontram. Convém recordar que muitas pessoas rejeitam o termo “Nova Era” e sugerem a expressão “espiritualidade alternativa” como mais correta e menos restritiva. Também é verdade que muitos dos fenômenos mencionados neste documento provavelmente não levam nenhuma etiqueta particular, porém se pressupõe, para ser breve, que os leitores identificaram o fenômeno ou conjunto de fenômenos que podem estar razoavelmente vinculados com o movimento cultural geral conhecido habitualmente como Nova Era.

2.1. Que há de novo na Nova Era?

Para muitos, o termo “Nova Era” se refere a um momento decisivo da história. Segundo os astrólogos, vivemos na Era de Peixes, que foi dominada pelo cristianismo e que será substituída pela nova era de Aquário no começo do terceiro milênio. A Era de aquário adquire uma enorme importância no movimento da Nova Era, em grande parte por causa do influxo da teosofia, do espiritismo e da antroposofia, assim como dos seus antecedentes esotéricos. Os que sublinham a iminente mudança do mundo expressam muitas vezes o desejo desta mudança, não tanto no mundo mesmo quanto em nossa cultura, em nosso modo de relacionar-nos com o mundo. Isto é especialmente manifestado naqueles que acentuam a idéia de um Novo Paradigma de vida. É um enfoque atraente, visto que algumas de suas manifestações, os seres humanos não são espectadores passivos, mas sim desempenham um papel ativo na transformação da cultura e na criação de uma nova consciência espiritual. Em outras manifestações, se atribui um maior poder à progressão inevitável dos ciclos naturais. De qualquer modo, a Era de Aquário é uma visão, não uma teoria. Porém a Nova Era é uma tradição ampla que incorpora muitas idéias sem vinculação explícita com a mudança da Era de Peixes para a Era de Aquário. Entre elas existem visões moderadas, porém muito generalizadas, de um futuro no qual haverá uma espiritualidade planetária junto às religiões individuais, instituições políticas planetárias que complementarão as locais, entidades econômicas globais mais participativas e democráticas, uma maior importância das comunicações e da educação, um enfoque misto da saúde que combinará a medicina profissional e a autocura, uma compreensão do eu mais andrógina, e formas de integrar a ciência, a mística, a tecnologia e a ecologia. Mais uma vez, isto demonstra o profundo desejo de uma existência satisfatória e saudável para a raça humana e para o planeta. Entre as tradições que se juntaram na Nova Era podem contar-se: as antigas práticas do ocultismo egípcio, a cabala, o gnosticismo cristão primitivo, o sufismo, as tradições dos druidas, o cristianismo celta, a alquimia medieval, o hermetismo renascentista, o budismo zen, a yoga, etc.

Nisto consiste o “novo” da Nova Era. É um “sincretismo de elementos esotéricos e seculares”. Vincula-se à percepção, amplamente difundida, de que o tempo está maduro para uma mudança fundamental dos indivíduos, da sociedade e do mundo. Há várias expressões da necessidade de mudança:
- da física mecanicista de Newton à física quântica;
- da exaltação da razão da modernidade a uma valorização do sentimento, da emoção e da experiência (descrita muitas vezes como um deslocamento do pensamento racional “do hemisfério esquerdo” ao pensamento intuitivo do “hemisfério direito”);
- do domínio da masculinidade e do patriarcado, a uma celebração da feminilidade nos indivíduos e na sociedade.

Neste contexto se usa com freqüência o termo “mudança de paradigma” (paradigm shift). Às vezes, claramente se pressupõe que tal mudança não somente é desejável, porém inevitável. A negação da modernidade, subjacente a este desejo de mudança, não é nova. Ao contrário pode descrever-se como “um restabelecimento ou “revival” moderno das religiões pagãs com uma mistura de influências tanto das religiões orientais como da psicologia, da filosofia, da ciência e da contracultura modernas, desenvolvidas nos anos cinqüenta e sessenta”. A Nova Era não é senão uma testemunha de idéias e valores dominantes na cultura ocidental, apesar de que sua crítica idealista é, paradoxalmente, típica da cultura que critica.

É preciso dizer uma palavra sobre a idéia de mudança de paradigma. Foi popularizada por Thomas Kuhn, historiador americano da ciência, que concebeu o paradigma como “a constelação inteira de crenças, valores, técnicas, etc., compartilhados pelos membros de uma dada comunidade”. Quando se produz um deslocamento de um paradigma a outro, se trata de uma transformação em bloco da perspectiva mais do que um desenvolvimento gradual: na realidade, é uma revolução. Kuhn enfatizou que os paradigmas rivais são incomensuráveis e não podem coexistir. Por isso, afirmar que uma mudança de paradigma no âmbito da religião e da espiritualidade é simplesmente uma maneira nova de formular as crenças tradicionais, constitui um erro. O que acontece na verdade é uma mudança radical de cosmovisão, que invalida não só o conteúdo, mas também a interpretação fundamental da visão anterior. Talvez o exemplo mais claro de tudo isto, pelo que se refere à relação entre a Nova Era e o cristianismo, seja a reelaboração da vida e do significado de Jesus Cristo. É impossível reconciliar estas duas visões.

Está claro que a ciência e a tecnologia têm sido incapazes de cumprir suas promessas antigas pelo que os seres humanos se têm voltado para o âmbito espiritual em busca de significado e de libertação. Tal como agora a conhecemos, a Nova Era procedia da busca de algo mais humano e mais belo diante da experiência opressora e alienante da vida na sociedade ocidental. Seus primeiros expoentes, dispostos a estender seu olhar na direção desta busca, fizeram dela um enfoque muito eclético. Poderia ser um dos sinais da “volta à religião”, porém afinal não é uma volta às doutrinas e credos cristãos ortodoxos. Os primeiros símbolos deste “movimento” que se introduziram na cultura ocidental foram o conhecido festival de Woodstock, no Estado de Nova York, em 1969, e o musical Hair, que expôs os principais temas da Nova Era em sua canção emblemática “Aquarius”. Porém isto era tão somente a ponta de um icerbeg cujas verdadeiras dimensões se pode perceber somente numa época relativamente recente. O idealismo dos anos 1960 e 1970 ainda sobrevive em alguns setores. Porém agora já não são os adolescentes que estão principalmente envolvidos. Os vínculos com a ideologia política de esquerda se desvaneceram e as drogas psicodélicas já não têm a importância daquele tempo. Ocorreram tantas coisas desde aquele tempo que tudo isto já não é revolucionário. As tendências “espirituais e “místicas” que antes se limitavam à contracultura, hoje em dia fazem parte arraigada da cultura dominante e afetam facetas tão distintas da vida como a medicina, a ciência, a arte e a religião. A cultura ocidental está agora imbuída de uma consciência política e ecológica mais generalizada e todo este deslocamento cultural exerceu um enorme impacto nos estilos de vida das pessoas. Alguns sugeriram que o “movimento” Nova Era é precisamente essa grande mudança para o que se considera “um gênero de vida notavelmente melhor”.

2.2. O que pretende oferecer a Nova Era?

2.2.1. Encantamento: deve haver um anjo

Um dos elementos mais comuns da espiritualidade da Nova Era é a fascinação pelas manifestações extraordinárias e em particular pelos seres paranormais. As pessoas reconhecidas como médiuns asseguram que sua personalidade é possuída por outra entidade durante o transe, um fenômeno da Nova Era conhecido como “channeling” (canalização), no qual o médium pode perder o controle de seu corpo e de suas faculdades. Algumas pessoas que foram testemunhas destes acontecimentos não duvidariam em admitir que as manifestações são efetivamente espirituais, porém não procedem de Deus, apesar da linguagem de amor e luz que se costuma usar quase sempre. Provavelmente seja mais correto referir-se a isto como a uma forma contemporânea de espiritismo, mais que a uma espiritualidade em sentido estrito. Outros amigos e conselheiros do mundo do espírito são os anjos (que se converteram em centro de um novo negócio de livros e imagens). Quando na Nova Era se fala de anjos, se faz de maneira pouco sistemática, pois as distinções neste âmbito nem sempre se consideram úteis, sobretudo se são demasiado precisas, já que “há muitos níveis de guias, entidades, energias e seres em cada oitava do universo... Estão ali para que os escolhas e elejas segundo os teus próprios mecanismos de atração–repulsão”. Estes seres espirituais às vezes são invocados de maneira “não religiosa” como uma ajuda para o relaxamento, com vista a melhorar a tomada de decisões e o controle da própria vida pessoal e profissional. Outra experiência da Nova Era, que asseguram possuir alguns que se auto-definem como “místicos”, consiste na fusão com alguns espíritos que ensinam através de pessoas concretas. Alguns espíritos da natureza são descritos como energias poderosas que existem no mundo natural e também nos “níveis interiores”: Isto é, aqueles aos quais se acede mediante o uso de rituais, drogas e outras técnicas para alcançar estados de consciência alterados. Está claro que, ao menos em teoria, a Nova Era muitas vezes não reconhece nenhuma autoridade espiritual além da experiência pessoal interior.

2.2.2. Harmonia e compreensão: boas vibrações

Fenômenos tão diversos como o Jardim de Findhorn e Feng Shui representam uma diversidade de estilos que ilustram a importância de estar em sintonia com a natureza e o cosmos. Na Nova Era não existe distinção entre o bem e o mal. As ações humanas são fruto da iluminação ou da ignorância. Daí que não podemos condenar ninguém, e que ninguém tem necessidade de perdão. Crer na existência do mal só pode criar negatividade e temor. A resposta à negatividade é o amor. Porém não do tipo que tem que traduzir-se em ações, é mais uma questão de atitudes da mente. O amor é energia, uma vibração de alta freqüência; o segredo da felicidade e da saúde consiste em sintonizar com a grande cadeia do ser, de encontrar o próprio lugar nela. Os mestres e as terapias da Nova Era afirmam oferecer a chave para encontrar as correspondências entre todos os elementos do universo, de modo que a pessoa possa modular a tonalidade de sua vida e estar em harmonia absoluta com os demais e com tudo que a rodeia, se bem que o pano de fundo teórico varia de um para o outro.

2.2.3. Saúde: uma vida dourada

A medicina formal (alopática) tende na atualidade a limitar-se a curar doenças isoladas, concretas, e não alcança uma visão de conjunto da saúde da pessoa: isto tem provocado freqüentemente uma compreensível insatisfação. A popularidade das terapias alternativas tem aumentado enormemente porque asseguram abranger a pessoa em sua totalidade e se dedicam a remedir mais que a curar, como se sabe, a saúde holística se centra no importante papel que desempenha a mente na cura física. Diz-se que a conexão entre os aspectos espirituais e físicos da pessoa se encontra no sistema imunológico ou no sistema dos chakras hindus. Na perspectiva da Nova Era, a enfermidade e o sofrimento procedem de uma atuação contra a natureza. Quando se está em sintonia com a natureza, pode-se esperar uma vida mais saudável e inclusive uma prosperidade material. Segundo alguns curandeiros da Nova Era, na realidade não teríamos por que morrer. O desenvolvimento do nosso potencial humano nos porá em contato com nossa divindade interior e com aquelas partes de nosso eu alienadas ou suprimidas. Isto se revela sobretudo nos Estados de Consciência Alterados (Alterated States of Consciousness, ASCs), induzidos ou pelas drogas ou por diversas técnicas de expansão da mente, particularmente no contexto da “psicologia transpessoal”. Costuma-se considerar o xamã como o especialista dos estados de consciência alterados, como aquele que é capaz de ser um medianeiro entre os reinos transpessoais dos deuses e dos espíritos e o mundo dos humanos.
Existe uma notável variedade de enfoques que promovem a saúde holística, derivados uns das antigas tradições culturais, conectados outros com as teorias psicológicas desenvolvidas em Esalen durante os anos 1960-1970. A publicidade relacionada com a Nova Era cobre um amplo espectro de práticas, tais como a acupuntura, o biofeedback, a quiroterapia, a quinesiologia, a homeopatia, a iridologia, massagem e vários tipos de “técnicas corporais” (tais como ergonomia, Feldenkreis, reflexologia, rolfing, massagem de polaridade, toque terapêutico, etc.), a meditação e a visualização, as terapias nutricionais, tratamentos psíquicos, vários tipos de medicina à base de plantas, a cura mediante os cristais (cristaloterapia), metais (metaloterapia), música (musicoterapia) ou cores (cromoterapia), as terapias de reencarnação e, por último, os programas dos doze passos e os grupos de auto-ajuda. Afirma-se que a fonte da cura está dentro de nós mesmos, que a podemos alcançar quando estamos em contato com nossa energia interior ou com a energia cósmica.
Enquanto a saúde inclui um prolongamento da vida, a Nova Era oferece uma fórmula oriental em termos ocidentais. Originalmente, a reencarnação fazia parte do pensamento cíclico hindu, baseada no atman ou núcleo divino da personalidade (mais tarde, o conceito de jiva), que se transferia de um corpo para outro corpo em um ciclo de sofrimento (samsara), determinado pela lei do karma, vinculado ao comportamento nas vidas passadas. A esperança se apóia na possibilidade de nascer num estado melhor ou, definitivamente, na libertação da necessidade de tornar a nascer. Diversamente da maioria das tradições budistas, o que vaga de corpo em corpo não é uma alma, mas sim um continuum de consciência. Em ambas tradições, a vida presente está encerrada num processo cósmico potencialmente infinito, sem fim, que inclui até os deuses. No Ocidente, depois de Lessing, a reencarnação foi entendida de maneira muito mais otimista, como um processo de aprendizagem e de realização individual progressiva. O espiritismo, a teosofia, a antroposofia e a Nova Era vêem a reencarnação como uma participação na evolução cósmica. Este enfoque pós-cristão da escatologia se considera como a resposta a questões não resolvidas pela teodicéia e prescinde do conceito de inferno. Quando a alma se separa do corpo, os indivíduos podem voltar o olhar para toda a sua vida até esse instante e quando a alma se une a seu novo corpo se obtém uma visão antecipada da seguinte fase da vida. A pessoa pode aceder a suas vidas anteriores mediante os sonhos e as técnicas de meditação.

2.2.4. Totalidade: uma viagem mágica ao mistério

Uma das preocupações centrais do movimento Nova Era é a busca da “totalidade”. Convida a superar todas as formas de “dualismo”, já que essas divisões são um produto doentio de um passado menos iluminado. As divisões que, segundo os promotores da Nova Era, se devem superar, incluem a diferença real entre o Criador e a criação, a distinção real entre o ser humano e a natureza ou entre o espírito e a matéria, todas as quais são consideradas erroneamente como formas de dualismo. Supõe-se que estas tendências dualistas estão baseadas em definitivo nas raízes judeu-cristãs da civilização ocidental, quando na realidade seria mais correto vinculá-las ao gnosticismo, e em particular ao maniqueísmo. A revolução científica e o espírito do racionalismo moderno são considerados culpados especialmente da tendência à fragmentação que considera as unidades orgânicas como mecanismos redutíveis a seus componentes menores, que podem explicar-se depois em função destes últimos, assim como da tendência a reduzir o espírito à matéria de maneira que a realidade espiritual – incluindo a alma – se converte em mero “epifenômeno” contingente de processos essencialmente materiais. Em todas estas áreas, as alternativas da Nova Era recebem o nome de “holísticas”. O holismo impregna todo o movimento Nova Era, desde seu interesse pela saúde holística até a busca da consciência unitiva, e desde a sensibilidade ecológica até a idéia de uma “rede” global.

2.3. Princípios fundamentais do pensamento da Nova Era

2.3.1. Uma resposta global em tempos de crise
“Tanto a tradição cristã como a fé leiga no progresso ilimitado da ciência tiveram que enfrentar uma grave ruptura manifestada pela primeira vez nas revoltas estudantis de 1968”. A sabedoria das velhas gerações de repente ficou sem significado e sem respeito, enquanto se desvanecia a onipotência da ciência, de maneira que a Igreja agora “tem que enfrentar uma grave crise na transmissão de sua fé às gerações jovens”. A perda generalizada de confiança nestes antigos pilares da consciência e da coesão social foi acompanhada por um retorno inesperado da religiosidade cósmica, de rituais e crenças que muitos pensavam tinham sido suplantados pelo cristianismo. Só que esta perene corrente esotérica subterrânea na realidade nunca se tinha extinguido. Em compensação, parecia novo no contexto ocidental o pico da popularidade da religião asiática, sob a influência do movimento teosófico do fim do século XIX que “reflete a crescente consciência de uma espiritualidade global que incorpora todas as tradições religiosas existentes”.

A eterna questão filosófica da unidade e da multiplicidade tem sua forma moderna e contemporânea na tentação não somente de superar uma divisão indevida, mas inclusive também a diferença e a distinção reais. Suas expressões mais comuns é o holismo, ingrediente essencial da Nova Era e um dos principais sinais dos tempos no último quarto do século XX. Investiram-se grandes energias no esforço para superar a divisão em compartimentos estanques característica da ideologia mecanicista, porém isto provocou a submissão a uma rede global que adquire uma autoridade quase transcendental. Suas implicações mais óbvias são o processo de transformação consciente e o desenvolvimento da ecologia. A nova visão, meta da transformação consciente, demorou a ser formulada e sua aplicação se ver obstaculizada por formas de pensamento mais antigas, que se consideram entrincheiradas no status quo. Em compensação, teve um enorme êxito a generalização da ecologia como fascinação pela natureza e ressacralização da terra, a Mãe Terra ou Gaia, graças ao zelo missionário característico dos “verdes”. A raça humana como conjunto é o agente executivo da Terra e a harmonia e compreensão que se requerem para o governo responsável que vai sendo compreendida de maneira progressiva como um governo global, com uma estrutura ética global. Considera-se que o calor da Mãe Terra, cuja divindade penetra toda a criação, preenche o vazio entre a criação e o Deus-Pai transcendente do judaísmo e do cristianismo, eliminando a possibilidade de ser julgado por este último.

Nesta visão de um universo fechado, que contém “Deus” e outros seres espirituais junto conosco, se descobre um panteísmo implícito. Este é um ponto fundamental que impregna todo o pensamento e a atuação da Nova Era e que condiciona de antemão qualquer outra avaliação positiva deste ou daquele aspecto de sua espiritualidade. Como cristãos cremos, pelo contrário, que “o ser humano é essencialmente uma criatura e como tal permanece para sempre, de tal forma que nunca será possível uma absorção do eu humano no Eu divino”.

2.3.2. A matriz principal do pensamento da Nova Era

A matriz essencial do pensamento da Nova Era deve ser buscada na tradição esotérico-teosófica que gozou de grande aceitação nos círculos intelectuais europeus dos séculos XVIII e XIX. Em particular, vigorou na maçonaria, no espiritismo, no ocultismo e na teosofia, que compartilhavam uma espécie de cultura esotérica. Nesta cosmovisão, o universo visível e o invisível estão vinculados por uma série de correspondências, analogias e influências entre o microcosmos e o macrocosmos, entre os metais e os planetas, entre os planetas e as diversas partes do corpo humano, entre o cosmos visível e os âmbitos invisíveis da realidade. A natureza é um ser vivo, atravessado por uma rede de simpatias e antipatias, animado por uma luz e um fogo secreto que os seres humanos procuram controlar. As pessoas podem conectar-se com os mundos superior ou inferior mediante sua imaginação (órgão da alma ou espírito) ou então recorrendo a mediadores (anjos, espíritos, demônios) ou rituais.

As pessoas podem ser iniciadas nos mistérios do cosmos, Deus, ou o eu, por meio de um itinerário espiritual de transformação. A meta última é a gnose, a forma superior de conhecimento, equivalente a salvação. Implica numa busca da mais antiga e elevada tradição da filosofia (o que se chama, de modo inapropriado, philosophia perennis) e da religião (teologia primordial), doutrina secreta (esotérica) que é a chave de todas as tradições “exotéricas” acessíveis a todos. Os ensinamentos esotéricos se transmitem de mestre para discípulo num programa gradual de iniciação.

Alguns vêem o esoterismo do século XIX como algo totalmente secularizado. A Alquimia, a magia, a astrologia e outros elementos do esoterismo tradicional se tinham integrado completamente com aspectos da cultura moderna, incluindo a busca das leis causais, o evolucionismo, a psicologia e o estudo das religiões. Alcançou sua forma mais clara nas idéias de Helena Blavatsky, uma médium russa que, junto com Henry Olcott, fundou a Theosophical Society em Nova York em 1875. Esta sociedade tinha por objetivo fundir elementos das tradições orientais e ocidentais em uma forma de espiritismo evolucionista. Tinha três objetivos principais:

1. “Formar um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo ou cor”.
2. “Promover o estudo comparativo das religiões, a filosofia e a ciência”.
3. “Investigar as leis desconhecidas da Natureza e os poderes latentes do ser humano”.

“O significado desses objetivos... deveria estar claro. O primeiro objetivo nega implicitamente o “fanatismo irracional” e o “sectarismo” do cristianismo tradicional tal como o concebem os espiritistas e os teósofos... O que não é imediatamente evidente nestes objetivos é que para os teósofos a “ciência” significava as ciências ocultas, e a filosofia, a occulta philosophia. Para eles, as leis da natureza eram de índole oculta ou psíquica e esperavam que a religião comparativa desvelasse uma “tradição primordial” modelada, em último termo, a partir de uma philosofia perennis hermética”.

Um componente destacado dos escritos de Madame Blavatsky era a emancipação da mulher, o qual implicava um ataque contra o Deus “masculino” do judaísmo, do cristianismo e do Islã. Convidava a voltar à deusa mãe do hinduísmo e à prática das virtudes femininas. Estas idéias continuaram sob a orientação de Annie Besant, que se achava na vanguarda do movimento feminista. Na atualidade, a Wicca (cf. o termo no glossário do parágrafo n. 7) e a “espiritualidade das mulheres” continuam esta luta contra o cristianismo “patriarcal”.

Em sua obra The Aquarian Conspiracy, “A conspiração do Aquário”, Marilyn Ferguson dedicou um capítulo aos precursores da Era de Aquário, aqueles que haviam tecido uma visão transformadora baseada na expansão da consciência e na experiência da auto-transcendência. Dois dos mencionados são o psicólogo americano William James e o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. James definiu a religião como experiência, não como dogma, e ensinou que os seres humanos podem mudar suas atitudes mentais a fim de converter-se em arquitetos de seu próprio destino. Jung destacou o caráter transcendente da consciência e introduziu a idéia do inconsciente coletivo, uma espécie de depósito de símbolos e recordações partilhadas com pessoas de diversas épocas e culturas diferentes. Segundo Wouter Hanegraaff, ambas personagens contribuíram para a “sacralização da psicologia”, que se converteu em um elemento fundamental do pensamento e da prática da Nova Era. De fato, Jung “não só psicologizou o esoterismo, mas também sacralizou a psicologia, enchendo-a dos conteúdos da especulação esotérica. O resultado foi um corpo de teorias que permite falar de Deus quando na realidade se quer falar da própria psique, e falar da própria psique quando na realidade se quer falar do divino. Se a psique é “mente”, e Deus também é “mente”, então falar de uma coisa significa falar da outra”. À acusação de ter “psicologizado” o cristianismo responde que “a psicologia é o mito moderno e só podemos entender a fé nestes termos”. Certamente, a psicologia de Jung lança luz sobre muitos aspectos da fé cristã, especialmente sobre a necessidade de enfrentar a realidade do mal. Porém suas convicções religiosas são tão diferentes ao longo das diversas etapas de sua vida, que a imagem de Deus que se depreende é sumamente confusa. Um elemento central de seu pensamento é o culto ao sol, onde Deus é a energia vital (libido) do interior da pessoa. Segundo afirmou ele mesmo “esta comparação não é um mero jogo de palavras”. Este é “o Deus interior” ao que se refere Jung, a divindade essencial que ele acreditava existir em todo o ser humano. O caminho para o universo interior passa através do inconsciente e a correspondência do mundo interior com o exterior reside no inconsciente coletivo.

A tendência a intercambiar a psicologia e a espiritualidade foi retomada pelo Movimento do Potencial Humano quando este se desenvolveu no final dos anos sessenta no Instituto Esalen da Califórnia. A psicologia transpessoal, fortemente influída pelas religiões orientais e por Jung, oferece um caminho contemplativo onde a ciência se encontra com a mística. A ênfase que se coloca na corporeidade, a busca de métodos para expandir a consciência e o cultivo dos mitos do inconsciente coletivo eram todos incentivos para buscar o “Deus interior” dentro de si mesmo. Para realizar o próprio potencial seria necessário ir além do ego individual a fim de converter-se no deus que cada um é no mais profundo de si mesmo. Isto se podia realizar escolhendo a terapia adequada: a meditação, as experiências parapsicológicas, o uso de drogas alucinógenas. Todos estes eram os caminhos para chegar a “experiências culminantes”, experiências “místicas” de fusão com Deus e com o cosmos.

O símbolo de Aquário, tirado da mitologia astrológica, chegou a converter-se na expressão do desejo de um mundo radicalmente novo. Dois centros que constituíam o centro propulsor inicial da Nova Era (e que continuam sendo-o até certo ponto) eram a Comunidade Jardim de Findhorn, no Nordeste da Escócia, e o Centro para o Desenvolvimento do Potencial Humano de Esalen, em Big Sur, Califórnia, nos Estados Unidos. No entanto, o que mais alimenta a difusão da Nova Era é o desenvolvimento de uma progressiva consciência global e a percepção crescente de uma crise ecológica iminente.

2.3.3. Temas centrais da Nova Era

A Nova Era não é uma religião propriamente dita, porém se interessa por aquilo que se denomina “divino”. A essência da Nova Era é a livre associação de diversas atividades, idéias e pessoas, às quais se poderia aplicar esta denominação. Não existe, de fato, uma só articulação de doutrinas parecidas às das grandes religiões. Apesar disso, e apesar da enorme variedade que existe na Nova Era, existem certos pontos comuns:
- O cosmos é visto como um todo orgânico;
- Está animado por uma Energia, que também se identifica com a Alma divina ou Espírito;
- Acredita-se na mediação de várias entidades espirituais: os seres humanos são capazes de ascender às esferas superiores invisíveis e de controlar suas próprias vidas além da morte;
- Defende-se a existência de um “conhecimento perene” que é prévio e superior a todas as religiões e culturas;
- as pessoas seguem mestres iluminados...

2.3.4. O que diz a Nova Era sobre...?

2.3.4.1. ...a pessoa humana?

A Nova Era implica uma crença fundamental na perfectibilidade da pessoa humana mediante uma ampla variedade de técnicas e terapias (em contraposição com a idéia cristã de cooperação com a graça divina). Existe uma coincidência de fundo com a idéia de Nietzsche de que o cristianismo impediu a manifestação plena da humanidade genuína. Neste contexto, a perfeição significa alcançar a própria realização segundo uma ordem de valores que nós mesmos criamos e que alcançamos por nossas próprias forças: daí que podemos falar de um eu autocriador. A partir desta ótica, há maior diferença entre os humanos tal como são agora e como serão quando tiverem realizado seu potencial, do que aquela que existe atualmente entre os humanos e os antropóides.

É útil distinguir entre o esoterismo ou busca de conhecimento, e a magia, ou ocultismo: esta última é um meio para obter poder. Alguns grupos são ao mesmo tempo esotéricos e ocultistas. No centro do ocultismo existe uma vontade de poder baseada no sonho de tornar-se divino. As técnicas de expansão da mente têm por objetivo revelar às pessoas seu poder divino. Utilizando este poder, preparam o caminho para a Era da Iluminação. Esta exaltação da humanidade, cuja forma extrema é o satanismo, subverte a correta relação entre o Criador e a criatura. Satã se converte no símbolo de uma rebelião contra as convenções e as regras, símbolo que com freqüência adota formas agressivas, egoístas e violentas. Alguns grupos evangélicos manifestaram sua preocupação pela presença subliminar do que consideram simbolismo satânico em algumas variedades de música rock, que exercem uma profunda influência nos jovens. De qualquer modo, está muito longe a mensagem de paz e harmonia que se encontra no Novo Testamento e com freqüência é uma das conseqüências da exaltação da humanidade quando implica a negação de um Deus transcendente.

Porém não se trata somente de algo que afete aos jovens. Os temas básicos da cultura esotérica também estão presentes nos âmbitos da política, da educação e da legislação. Isto se aplica especialmente à ecologia. Sua forte ênfase no biocentrismo nega a visão antropológica da Bíblia, segundo a qual o ser humano é o centro do mundo por ser qualitativamente superior às demais formas de vida natural. O ecologismo desempenha hoje um papel destacado na legislação e na educação, apesar de que deste modo rebaixa o ser humano. A mesma matriz cultural esotérica pode achar-se na teoria ideológica subjacente à política de controle da natalidade e nas experiências de engenharia genética, que parecem expressar o sonho humano de re-criar-se a si mesmo. Espera-se realizar este sonho decifrando o código genético, alterando as regras naturais da sexualidade e desafiando os limites da morte.

Naquilo que poderia chamar-se um relato típico da Nova Era, as pessoas nascem com uma centelha divina, num sentido que recorda o gnosticismo antigo. Esta centelha as vincula à unidade do Todo, pelo que são essencialmente divinas, embora participem da divindade cósmica segundo distintos níveis de consciência. Somos co-criadores e criamos nossa própria realidade. Muitos autores da Nova Era sustentam que somos nós que escolhemos as circunstâncias de nossas vidas (inclusive nossa própria enfermidade e nossa própria saúde). Nesta visão cada indivíduo é considerado fonte criadora do universo. Porém necessitamos fazer uma viagem para compreender plenamente onde nos encaixamos dentro da unidade do cosmos. A viagem é a psicoterapia e o reconhecimento da consciência universal, a salvação. Não existe o pecado; somente existe conhecimento imperfeito. A identidade de cada ser humano se dilui no ser universal e no processo de sucessivas encarnações. As pessoas estão submetidas ao influxo determinante das estrelas, porém podem abrir-se à divindade que vive em seu interior, numa busca contínua (mediante as técnicas apropriadas) de uma harmonia cada vez maior entre o eu e a energia cósmica divina. Não é necessário qualquer Revelação ou Salvação alguma que chegue de fora das pessoas, mas simplesmente experimentar a salvação escondida no próprio interior (auto-salvação), dominando as técnicas psicofísicas que levam à iluminação definitiva.

Algumas etapas do caminho até a auto-redenção são preparatórias (a meditação, a harmonia corporal, a liberação de energias de autocura). São o ponto de partida para processos de espiritualização, aperfeiçoamento e iluminação que ajudam às pessoas a adquirir maior autocontrole e uma concentração psíquica na “transformação” do eu individual em “consciência cósmica”. O destino da pessoa humana é uma série de encarnações sucessivas da alma em corpos distintos. Isto se entende não como o ciclo de samsara, no sentido de purificação como castigo, mas como uma ascensão gradual para o desenvolvimento perfeito do próprio potencial.

A psicologia se utiliza para explicar a expansão da mente como experiência ‘mística”. A yoga, o zen, a meditação transcendental e os exercícios tântricos conduzem a uma experiência de plenitude do eu ou iluminação. Acredita-se que as “experiências culminantes“ (voltar a viver o próprio nascimento, viajar até as portas da morte, o biofeedback, a dança e inclusive as drogas, qualquer coisa que possa provocar um estado de consciência alterado) conduzem à unidade e à iluminação. Como só há uma Mente, algumas pessoas podem ser canais, canais para os seres superiores. Cada parte deste único ser universal está em contato com todas as demais partes. O enfoque clássico da Nova Era é a psicologia transpessoal, cujos conceitos básicos são a Mente Universal, o Eu Superior, o inconsciente coletivo e pessoal e o ego individual. O Ser Superior é nossa identidade real, ponte entre Deus como Mente divina e a humanidade. O desenvolvimento espiritual consiste no contato com o Ser Superior, que supera todas as formas de dualismo entre o sujeito e o objeto, a vida e a morte, a psique e o soma, o eu e os aspectos fragmentários desse mesmo eu. Nossa personalidade limitada é como uma sombra ou um sonho criados pelo eu real. O Ser Superior contém as recordações das (re-)encarnações anteriores.

2.3.4.2. ...Deus?

A Nova Era mostra uma notável preferência pelas religiões orientais ou pré-cristãs, as quais se consideram contaminadas pelas distorções judeu-cristãs. Daí o grande respeito que merecem os antigos ritos agrícolas e os cultos de fertilidade. “Gaia”, a Mãe Terra, se apresenta como alternativa a Deus Pai, cuja imagem se vê vinculada a uma concepção patriarcal do domínio masculino sobre a mulher. Fala-se de Deus, porém não se trata de um Deus pessoal. O Deus de que fala a Nova Era não é nem pessoal nem transcendente. Tampouco é o Criador que sustenta o universo, mas sim uma “energia impessoal”, imanente ao mundo, com o qual forma uma “unidade cósmica”: “Tudo é um”. Esta unidade é monista, panteísta ou, mais exatamente, panenteísta. Deus é o “princípio vital”, “o espírito ou alma do mundo”, a suma total da consciência que existe no mundo. Num certo sentido, tudo é Deus. Sua presença é claríssima nos aspectos espirituais da realidade, de modo que cada mente espírito é, em certo sentido, Deus.

A “energia divina”, quando é recebida conscientemente pelos seres humanos, costuma-se descrever como “energia crística”. Também se fala de Cristo, porém com ele não se alude a Jesus de Nazaré. “Cristo” é um título aplicado a alguém que chegou a um estado de consciência onde o indivíduo se percebe como divino e pode, portanto, pretender ser “Mestre universal”. Jesus de Nazaré não foi o Cristo, mas simplesmente uma das muitas figuras históricas nas quais se revelou essa natureza “crística” igual a Buda e outros. Cada realização histórica do Cristo mostra claramente que todos os seres humanos são celestiais e divinos e os conduz para essa realização.
No nível mais íntimo e pessoal (“psíquico”) no qual os seres humanos “ouvem” esta “energia cósmica divina” se chamam também “Espírito Santo”.

2.3.4.3. ...o mundo?

A mudança do modelo mecanicista da física clássica pelo “holístico” da moderna física atômica e subatômica, baseado na concepção da matéria como ondas ou quanta de energia em lugar de partículas, é central para o pensamento da Nova Era. O universo é um oceano de energia que constitui um todo único ou bordado de vínculos. A energia que anima o organismo único do universo é o “espírito”. Não há alteridade entre Deus e o mundo. O mundo mesmo é divino e está submetido a um processo evolutivo que leva da matéria inerte a uma “consciência superior e perfeita”. O mundo é incriado, eterno e auto-suficiente. O futuro do mundo se baseia num dinamismo interno, necessariamente positivo, que conduz à unidade reconciliada (divina)de tudo quanto existe. Deus e mundo, alma e corpo, inteligência e sentimento, céu e terra são uma única e imensa vibração de energia.

O livro de James Lovelock sobre a hipótese Gaia afirma que “todo o âmbito da matéria viva da terra, desde as baleias até os vírus e desde os carvalhos até as algas, poderia considerar-se como uma única entidade vivente, capaz de manipular a atmosfera da terra para adaptá-la a suas necessidades gerais e dotadas de faculdades e poderes que superam de longe os de suas partes constitutivas”. Para alguns a hipótese Gaia é “uma estranha síntese de individualismo e coletivismo. Parece como se a Nova Era, após ter arrancado as pessoas da política fragmentária, estivesse desejando lançá-las numa grande panela da mente global”. O cérebro global necessita de instituições com as quais governar, em outras palavras, um governo mundial. “Para enfrentar os problemas de hoje, a Nova Era sonha com uma aristocracia espiritual ao estilo da República de Platão, dirigida por sociedades secretas...”. Talvez seja um modo exagerado de expor a questão, porém existem numerosas provas de que o elitismo gnóstico e o governo global coincidem em muitos temas da política internacional.

Tudo quanto existe no universo está inter-relacionado. De fato, cada parte é em si mesma uma imagem da totalidade. O todo está em cada coisa e cada coisa no todo. Na “grande cadeia do ser”, todos os seres estão intimamente vinculados e formam uma só família com diferentes graus de evolução. Toda pessoa humana é um holograma, uma imagem da criação inteira, na qual cada coisa vibra com sua própria freqüência. Cada ser humano é um neurônio do sistema nervoso central e todas as entidades individuais se acham em relação de complementaridade uma com as outras; na realidade há uma complementaridade ou androginia interna em toda a criação.

Um dos temas constantes nos escritos e no pensamento da Nova Era é o “novo paradigma” que foi posto em evidência pela ciência contemporânea. “A ciência nos permitiu uma visão da totalidade e dos sistemas, nos deu estímulo e transformação. Estamos aprendendo a compreender as tendências, a reconhecer os sinais iniciais de um paradigma mais promissor. Criamos panoramas alternativos do futuro. Comunicamos as falhas dos velhos sistemas e forçamos novos contextos para resolver problemas em todas as áreas”. Até aqui, a “mudança de paradigma” é uma mudança radical de perspectiva, porém nada mais. A questão é saber se pensamento e mudança real serão proporcionais e se é possível demonstrar a eficácia que teria uma transformação interior sobre o mundo exterior. É obrigatório perguntar-se, mas sem expressar um juízo negativo, até que ponto pode considerar-se científico um processo mental que inclui afirmações como esta: “A guerra é inconcebível numa sociedade de pessoas autônomas que descobriram a interconexão de toda a humanidade, que não temem idéias estranhas e nem culturas estrangeiras, que sabem que todas as revoluções começam dentro da pessoa e que não se pode impor o próprio tipo de iluminação a ninguém”. Não é lógico deduzir que, visto que algo é inconcebível, não poderá acontecer. Este é o tipo de raciocínio tipicamente gnóstico, no sentido de que confere demasiado peso ao conhecimento e à consciência. E isto não significa negar o papel fundamental e crucial do desenvolvimento da consciência nos descobrimentos científicos e no processo criativo, mas simplesmente alertar contra a possibilidade de impor sobre a realidade exterior aquilo que até o momento só está na mente.

2.4. “Habitantes do mito ou da história?”: A Nova Era e a cultura

“Na realidade a atração da Nova Era tem algo a ver com o interesse pelo eu, seu valor, suas capacidades e problemas, que a cultura atual fomenta. Enquanto a religiosidade tradicional, com sua organização hierárquica se adapta bem à comunidade, a espiritualidade não tradicional se adapta bem ao indivíduo. A Nova Era é ‘do’ eu na medida em que fomenta a celebração daquilo que há de ser e vir a ser; e é ‘para’ o eu na medida em que, ao diferenciar-se do estabelecido, está numa situação capaz de enfrentar os problemas gerados pelas formas de vida convencionais”.

A rejeição da tradição em sua forma patriarcal, hierárquica, tanto social como eclesial, implica na busca de uma forma alternativa de sociedade, inspirada claramente no conceito moderno do eu. Muitos escritos da Nova Era defendem que não se pode fazer nada (diretamente) para mudar o mundo e em compensação se há de fazer tudo para mudar-se a si mesmo. Mudar a consciência individual se entende como a maneira (indireta) de mudar o mundo. O instrumento mais importante para a mudança social é o exemplo individual. O reconhecimento universal de tais exemplos pessoais levará paulatinamente à transformação da mente coletiva, transformação que será a conquista mais importante do nosso tempo. Isto faz parte, claramente, do paradigma holístico e constitui uma nova formulação do clássico problema filosófico da unidade e da pluralidade. Também está relacionada com a posição junguiana da correspondência e da rejeição da causalidade. Os indivíduos são representações fragmentárias do holograma planetário; olhando o próprio interior, não só se conhece o universo, mas também é possível mudá-lo. Só que quanto mais se olha para dentro, menor se torna o cenário político. É difícil saber se esta posição pode articular-se com a retórica da participação democrática numa nova ordem planetária, ou se pelo contrário se trata de uma maneira inconsciente e sutil de privar de poder as pessoas, deixando-as à mercê da manipulação. A atual preocupação pelos problemas planetários (os temas ecológicos, o esgotamento dos recursos naturais, a superpopulação, a diferença econômica entre norte e sul, o enorme arsenal nuclear, a instabilidade política) favorecem ou impedem o compromisso com outras questões políticas e sociais igualmente inquietantes? O antigo provérbio “a caridade bem entendida começa em casa” pode proporcionar um sadio equilíbrio à maneira de abordar estes temas. Alguns observadores da Nova Era detectam um autoritarismo sinistro por trás da aparente indiferença quanto à política. O próprio David Spangler assinala que uma das sombras da Nova Era é “uma capitulação sutil frente à impotência e a irresponsabilidade esperando que chegue a Nova Era em vez de ser criadores ativos de plenitude na própria vida”.

Seria certamente exagerado afirmar que o quietismo é geral nas atitudes da Nova Era. Contudo, uma das principais críticas ao movimento Nova Era é que a busca individualista da própria realização no fundo pode atuar contra uma sólida cultura religiosa. A este propósito, convém destacar três pontos:

- Cabe perguntar-se se a Nova Era possui coerência intelectual para proporcionar uma imagem completa do mundo a partir de uma cosmovisão que pretende integrar a natureza e a realidade espiritual. A Nova Era vê o universo ocidental cindido por causa das categorias de monoteísmo, transcendência, alteridade e separação. Descobre um dualismo fundamental em divisões como as que existem entre real e ideal, relativo e absoluto, finito e infinito, humano e divino, sagrado e profano, passado e presente, que remetem todas à “consciência infeliz” de Hegel e são responsáveis de uma situação considerada trágica. A resposta da Nova Era é a unidade mediante a fusão: pretende reconciliar alma e corpo, feminino e masculino, espírito e matéria, humano e divino, terra e cosmos, transcendente e imanente, religião e ciência, as diferenças entre as religiões, o Yin e o Yang. Já não há, portanto, alteridade. O que fica, em termos humanos, é a transpessoalidade. O mundo da Nova Era não é problemático: não fica nada para alcançar. Porém a questão metafísica da unidade e a pluralidade continua sem resposta, talvez sem sequer ser colocada; lamentam-se os efeitos da desunião ou da divisão, porém a resposta é uma descrição de como apareceriam as coisas em outra ótica.

- A Nova Era importa fragmentariamente práticas religiosas orientais e as reinterpreta para adaptá-las aos ocidentais. Isto implica uma rejeição da linguagem do pecado e da salvação, substituída com a linguagem moralmente neutra da dependência e da recuperação. As referências às influências extra-européias são às vezes uma mera “pseudo-orientalização” da cultura ocidental. Ademais, dificilmente se trata de um diálogo autêntico. Num ambiente onde as influências greco-romanas e judeu-cristãs resultam suspeitas, as orientais se utilizam precisamente porque são uma alternativa à cultura ocidental. A ciência e a medicina tradicionais são consideradas inferiores aos enfoques holísticos e igualmente acontece com as estruturas patriarcais e particulares na política e na religião. Todas estas coisas serão obstáculos para a vinda da Era de Aquário. Mais uma vez, está claro que, na realidade, optar pelas alternativas da Nova Era implica uma ruptura total com a tradição de origem. Seria necessário perguntar se realmente é uma atitude tão madura e tão liberada como se costuma pensar.

- As tradições religiosas autênticas promovem a disciplina com o objetivo último de adquirir sabedoria, equanimidade e compaixão. A Nova Era reflete um anseio profundo e inextinguível que existe na sociedade de uma cultura religiosa íntegra, de uma visão mais geral e iluminadora do que aquilo que os políticos costumam oferecer. Porém não está claro se os benefícios de uma visão baseada na permanente expansão do eu são para os indivíduos ou para as sociedades. Os cursos de formação da Nova Era (o que costumava-se chamar-se “Cursos de Formação Erhard” (Erhard Seminar Trainings [EST], etc.) conjugam os valores contraculturais com a necessidade de triunfar, a satisfação interior com o êxito externo. O curso de retiro “Espírito de Negócios” de Findhorn transforma a experiência do trabalho com o fim de aumentar a produtividade. Alguns adeptos da Nova Era aderem a ela não só para ser mais autênticos e espontâneos, mas também para enriquecer-se (mediante a magia, etc.). “Os cursos de formação da Nova Era têm também ressonâncias de idéias de certo modo mais humanistas que as estendidas no mundo dos negócios, o que faz que a pessoa de negócios com mentalidade empresarial o tornem mais atraentes. As idéias têm a ver com o lugar de trabalho como “um ambiente de aprendizagem“, que “humaniza o trabalho”, “humaniza o chefe”, onde “as pessoas ocupam o primeiro lugar” ou “se libera o potencial”. Tal como as apresentam os formadores da Nova Era, é provável que atraiam as pessoas de negócios que já participaram em outros cursos de formação de corte humanista (leigo) e que queiram dar um passo a mais: interessados em seu crescimento pessoal, sua felicidade e seu entusiasmo e ao mesmo tempo em sua produtividade econômica”. Assim, está claro que as pessoas envolvidas buscam realmente sabedoria e equanimidade em benefício próprio, porém em que medida as atividades em que participam as capacitam para trabalhar pelo bem comum? À parte a questão da motivação, todos estes fenômenos devem ser julgados por seus frutos, e a pergunta que se deve levantar é se promovem o eu ou promovem a solidariedade, não somente com baleias, as árvores ou pessoas de mentalidade similar, mas com o conjunto da criação: incluindo a humanidade inteira. As piores conseqüências de toda filosofia do egoísmo, tanto se é adotada pelas instituições como por amplos setores sociais, são o que o Cardeal Joseph Ratzinger define um conjunto de “estratégias para reduzir o número dos que se sentam para comer à mesa da humanidade”. Este é um critério-chave com o que se deve avaliar o impacto de qualquer filosofia ou teoria. O cristianismo busca sempre medir os esforços humanos por sua abertura ao Criador e às demais criaturas, um respeito firmemente baseado no amor.

2.5. Por que a Nova Era cresceu com tanta rapidez e se difundiu de maneira tão eficaz?

Por mais objeções e críticas que suscite, a Nova Era é uma tentativa de levar calor a um mundo que muitos experimentam como cruel e impiedoso. Como reação diante da modernidade, age quase sempre no nível dos sentimentos, instintos e emoções. A angústia diante de um futuro apocalíptico de instabilidade econômica, incerteza política e mudanças climáticas desempenha um papel importante na busca de uma relação alternativa e decididamente otimista com o cosmos. Existe uma busca de plenitude e felicidade, com freqüência num nível explicitamente espiritual. Porém é significativo que a Nova Era tenha gozado de um êxito enorme numa era que pode caracterizar-se pela exaltação quase universal da diversidade. A cultura ocidental deu um passo além da tolerância - no sentido de aceitar de má vontade ou suportar a idiossincrasia de pessoas ou grupos minoritários – à erosão consciente do respeito à normalidade. A normalidade se apresenta com conotações moralistas, vinculadas necessariamente a normas absolutas. Para um número crescente de pessoas, as crenças ou normas absolutas indicam somente a incapacidade de tolerar as idéias e convicções das demais pessoas. Neste ambiente, tornaram-se moda os estilos de vida alternativos: ser diferente não só é aceitável, mas positivamente bom.

É essencial levar em conta que as pessoas se relacionam com a Nova Era de maneiras muito distintas e em graus diversos. Na maioria dos casos não se trata realmente de uma “pertença” a um grupo ou movimento. Tampouco há uma consciência muito clara dos princípios sobre os quais se baseia a Nova Era. Aparentemente, a maioria das pessoas se sentem atraídas por terapias ou práticas concretas, sem conhecimento das posições de fundo que estas implicam; outros não são mais que consumidores ocasionais de produtos que levam a etiqueta “Nova Era”. Aqueles que utilizam a aromaterapia ou escutam música New age, por exemplo costumam estar interessados pelo efeito que tem na sua saúde ou bem-estar. Somente uma minoria se aprofunda nestes temas e procura entender seu significado teórico (ou “místico”). E isto combina perfeitamente com os esquemas das sociedades de consumo nas quais o ócio e o entretenimento desempenham um papel fundamental. O “movimento” se adaptou perfeitamente às leis do mercado e o fato de que a Nova Era se tenha difundido tanto se deve em parte ao resultado de uma proposta econômica muito atrativa. A Nova Era, ao menos em algumas culturas, se apresenta como uma etiqueta para um produto criado, aplicando os princípios da mercadologia a um fenômeno religioso. Sempre haverá um modo de aproveitar-se das necessidades espirituais das pessoas. Como muitos outros elementos da economia contemporânea, a Nova Era é um fenômeno global que se mantém unido e se alimenta graças à informação dos meios de comunicação de massas. Pode-se discutir se foram os meios de comunicação que criaram este fenômeno ou não; o que está claro é que a literatura popular e as comunicações de massa garantem uma rápida difusão, em escala universal das noções comuns defendidas pelos “crentes” e simpatizantes. No entanto, não é possível saber se esta difusão tão rápida das idéias obedece ao acaso ou a um projeto deliberado, já que se trata de comunidades muito pouco rígidas. Da mesma forma que acontece nas “cibercomunidades” criadas pela Internet, este é um âmbito no qual as relações entre as pessoas podem ser ou muito impessoais ou interpessoais só num sentido muito seletivo.

A Nova Era se fez sumamente popular como um vago conjunto de crenças, terapias e práticas, escolhidas e combinadas com freqüência segundo o próprio gosto, independentemente das incompatibilidades ou incongruências que implique. Além disso é o que cabe esperar de uma cosmovisão conscientemente baseada no pensamento intuitivo do “hemisfério direito do cérebro”. Precisamente por isso é tão importante descobrir e reconhecer as características fundamentais das idéias da Nova Era. O que esta oferece costuma descrever-se simplesmente como algo “espiritual”, mais que como pertencente a uma religião concreta. Não obstante, os vínculos com algumas religiões orientais concretas são muito mais estreitos do que imaginam alguns “consumidores”. Naturalmente isto é importante para os grupos de “oração” nos quais uma pessoa decide integrar-se, porém é também um problema real na gestão de um número crescente de empresas, a cujos empregados se exige fazer meditação e adotar técnicas de expansão mental como parte da vida profissional.

Valeria a pena acrescentar ainda algumas breves palavras sobre a promoção organizada da Nova Era como ideologia, porém se trata de um assunto sumamente complexo. Diante da Nova Era, alguns grupos reagiram com acusações generalizadas de conspiração”. Costuma-se responder que estamos assistindo a uma mudança cultural espontânea cuja trajetória está em grande parte determinada por influências que escapam do controle humano. Não obstante, basta assinalar que a Nova Era partilha com um bom número de grupos internacionalmente influentes o objetivo de substituir ou transcender as religiões particulares para deixar espaço para uma religião universal que unifique a humanidade. Estreitamente relacionado com isto, existe um esforço conjunto concreto por parte de muitas instituições para inventar Ética Global, um esquema ético que refletiria a natureza global da cultura, da economia e da política contemporâneas. Ainda mais, a politização das questões ecológicas influi em todo o tema das hipóteses Gaia ou culto da mãe terra.


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